Cinesiofobia é uma condição em que o indivíduo sente medo excessivo, irracional e debilitante na realização de movimentos. O medo de realizar movimento e reincidência de lesão é um fator associado à dor crónica e incapacidade, mas e na DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica)?

O principal sintoma da DPOC é a dispneia. Além da dispneia progressiva que causa limitação da atividade, as exacerbações graves também restringem as atividades da vida diária e reduzem a qualidade de vida. Pessoas com doença pulmonar evitam atividades associadas à dispneia ou compensam reduzindo a velocidade com que realizam essas atividades, apresentando então a cinesiofobia.

Estudos anteriores demonstraram uma relação entre cinesiofobia relacionada à dor e atividade física, capacidade funcional e qualidade de vida em muitas doenças crônicas, mas e na dispneia? Como o TMI pode ajudar esses pacientes?

Pesquisadores da Turquia, realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a cinesiofobia relacionada à dispneia usando o Breathlessness Beliefs Questionnaire (BBQ) em pacientes com DPOC, visando determinar os efeitos da TMI (treino muscular inspiratório) na  cinesiofobia relacionada à dispneia. Um objetivo secundário foi avaliar os efeitos do TMI na percepção da dispneia, função pulmonar, força muscular respiratória, capacidade funcional, nível de ansiedade e depressão e qualidade de vida nesse grupo de pacientes.

A dispneia e a dor são experiências multidimensionais e subjetivas. Foi relatado que os fatores que afetam a percepção da dor e a cinesiofobia podem desempenhar um papel semelhante na percepção da dispneia devido a características semelhantes, como vias nervosas comuns e áreas corticais. Estudos mostraram que a antecipação da dispneia ativa as áreas corticais associadas à dispneia e está associada à antecipação do medo. Como resultado desses fatores, a cinesiofobia relacionada à dispneia e uma subsequente diminuição do nível de atividade ocorrem na DPOC: o medo da dispneia, o isolamento social, a depressão e a ansiedade criam um ciclo vicioso  e a qualidade de vida é reduzida.

Sobre o estudo:

• Quarenta e cinco indivíduos foral alocados em dois grupos: TMI e grupo controle;
• Foram realizados vários testes: função pulmonar, força muscular inspiratória; caminhada de 6 minutos; escala de BORG, Breathlessness Beliefs Questionnaire: escala composta por 11 itens que avaliam a dispneia como um todo, ansiedade e depressão também foram medidas.

Sobre o treinamento:

• Foram recomendadas atividades físicas de intensidade moderada;
• Os valores de PImáx e PEmáx foram medidos semanalmente e as cargas de treinamento foram ajustadas de acordo com essas medidas no grupo TMI;
• Grupo TMI (23 indivíduos) a 30% da PIMAX ajustada semanalmente;
• Grupo controle (22 indivíduos) realizou o TMI sempre a 15% da Pimax inicial;
• O TMI foi realizado como um programa de exercícios domiciliares de 8 semanas com uma sessão por semana supervisionada por um fisioterapeuta. Todos os pacientes foram instruídos a realizar os exercícios de treinamento por 15 minutos, duas vezes ao dia, 5 dias por semana por um total de 8 semanas.

Sobre os resultados:

• Após IMT, foram observadas diminuições significativas nos escores de BBQ e Borg modificado em ambos os grupos. Essas diminuições foram significativamente maiores no grupo TMI;
• a força muscular inspiratória e expiratória, a distância de 6 minutos e o escore CAT foram significativamente melhorados em ambos os grupos,
• O grupo TMI apresentou alterações significativamente maiores em todos os escores em comparação ao grupo controle;
• Embora não fora realizado treino de PEmax, observaram uma importante melhora nesse parâmetro pós TMI.

O estudo conclui que o TMI foi eficaz na redução da dispneia percebida avaliada pelo MMRC e pela escala de Borg modificada (percepção globa). Observou-se também uma diminuição significativa nos escores de percepção global de Borg modificados em ambos os grupos, enquanto o escore MMRC diminuiu apenas no grupo TMI após o treinamento. Essa redução na percepção da dispneia resultou em níveis mais baixos de cinesiofobia relacionada à dispneia e melhora na capacidade de exercício e nos escores de qualidade de vida dos indivíduos. Como nossos. Os resultados mostraram uma forte relação entre a diminuição da cinesiofobia relacionada à dispneia e das percepções de dispneia deve ser esperada. Observou-se que os escores de dispneia global dos pacientes foram consistentes com a percepção de dispneia após o teste de caminhada de 6 minutos.

E você, tem aplicado TMI no seu paciente?

Confira o estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34034036/