quinta-feira, novembro 21, 2024

COVID, Qualidade de Vida, Saúde

Terapia por telemonitoramento: enaltecido durante os tempos de pandemia, será que veio para ficar?

Pesquisadores de Sp comprovaram que sim!

Pesquisa desenvolvida nas dependências do INCOR/HCFMUSP, analisou o índice de satisfação dos pacientes pós covid que realizaram o telemonitoramento para treinamento da musculatura inspiratória. O objetivo era avaliar a adesão e acima de tudo, avaliar a melhora de qualidade de vida do paciente.

Infecçção que causou grandes tragédias em todo mundo, que iniciou-se em novembro de 2019, a COVID-19 é uma infecção respiratória causada pelo vírus SarsCov-2 que até o ano de 2022, causou 6,5 milhões de mortes no mundo, já no Brasil são cerca de 34 milhões de casos identificados e 686 mil mortes registradas. Os sintomas mais comuns incluem a presença de tosse seca, febre, dispneia, mialgia, dores articulares, fadiga, sintomas gastrointestinais, anosmia e disgeusia, em alguns casos também apresentam: diarreia, cefaleia e faringite e acima de tudo a presença de sintomas mesmo após a cura da infecção, chamada de covid longa.

Dados demográficos que incluem pacientes com obesidade, idade avançada, tabagismo ativo, bem como doenças cardiopulmonares e metabólicas, sugerindo uma associação e maior suscetibilidade dos pacientes com COVID-19 ao desenvolvimento de complicações relacionadas a falência da musculatura respiratória, necessitando de cuidados intensivos.

Muitos pacientes apresentam condição de hipoxemia grave e demandam do uso de ventilação mecânica não invasiva (VNI), oxigenoterapia de baixo e alto fluxo durante a hospitalização e quando estas intervenções falham no sucesso terapêutico é necessário o recurso da intubação orotraqueal (IOT) e suporte ventilatório mecânico invasivo.

Devido à utilização prolongada do VMI, alguns pacientes podem apresentar redução da força e endurance da musculatura respiratória e, portanto, poderiam necessitar de reabilitação para retomar suas atividades de vida diária.

Sobre o estudo:

  • Foram selecionados 36 pacientes;
  • Os critérios de seleção foram baseados nos seguintes parâmetros: infeçcão por COVID comprovada por meio de PCR, necessidade de oxigenoterapia ou ventilação mecânica;
  • As reavaliações aconteceram nos seguintes períodos: 30 dias e 90 dias após a primeira avaliação.

Foram realizadas as seguintes avaliações:

  • Avaliação da pressão inspiratória sustentada (SMIP) para obtenção da capacidade máxima de gerar pressão muscular inspiratória e tempo de contração voluntária máxima, os indivíduos fizeram uma manobra de SMIP (sustained maximal inspiratory pressure), ou seja, uma manobra de PImax (pressão inspiratória máxima sustentada ao longo do tempo) sustentada pelo maior tempo possível, utilizando o dispositivo digital POWERBreathe Medical KH2®. Foram realizadas 5 manobras, considerando o tempo de repouso de 1 minuto entre as tentativas, com estímulo verbal do pesquisador, seguindo os mesmos critérios de posicionamento utilizados na avaliação das pressões respiratórias máximas convencionais.
  • Avaliação do índice de força (S-index) A avaliação do índice de força (S-Index) foi realizada por meio de uma manobra de expiração lenta seguida de uma inspiração forçada com o indivíduo em sedestação e nariz vedado com clip nasal. Foram realizadas 10 inspirações com intervalo de 30 segundos cada, sendo necessárias de 8 a 10 inspirações para que alcance o melhor desempenho muscular inspiratório e evite a fadiga da musculatura envolvida.
  • Avaliação da capacidade de endurance muscular inspiratório (teste de endurance) O objetivo desta avaliação é medir a capacidade de endurance/resistência da musculatura inspiratória em sustentar um trabalho muscular por um período pré-determinado (protocolo piloto de 7 minutos de duração). A carga de trabalho resistido, corresponderá 60% da máxima pressão inspiratória (PImax), avaliada previamente. O dispositivo de treinamento inspiratório utilizado foi o Powerbreathe, modelo Kh2. O protocolo seguiu em 7 minutos, paralisados até a referência de exaustão por parte do paciente, finalização do tempo proposto ou a não abertura da válvula por 3 vezes consecutivas.
  • Avaliação da eficácia do Telemonitoramento – Escala de Likert: Após finalizadas as avaliações da força muscular inspiratória foi realizada a aplicação da escala de Likert em material impresso, para avaliação da eficácia e satisfação do modelo de atendimento terapêutico por telemonitoramento. A escala de Likert é uma ferramenta de resposta psicométrica utilizada geralmente em forma de questionários, em pesquisas de opinião que permite mensurar a perspectiva dos indivíduos através de preposições dentro do tema envolvido.

Sobre o protocolo de treinamento:

  • Protocolo do Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) após avaliação médica e fisioterapêutica, ele consistia no direcionamento dos pacientes para a reabilitação domiciliar, onde o treinador realizou contato via aplicativo de vídeo chamada.
  • No primeiro dia de treinamento, o paciente foi instruído a respeito do preenchimento da folha de presença no TMI; foi feita a familiarização com a Escala de BORG para avaliação da dispneia, e por fim o paciente foi instruído acerca da forma correta de realização do exercício bem como a duração e séries do treinamento
  •  Quanto ao treinamento, a orientação foi conferir se a carga prescrita estava ajustada no aparelho, sentar em posição ereta com braços e pernas descruzados, colocar o clip nasal para evitar o escape de ar pelas narinas e despressurizar o sistema respiratório, e realizar uma expiração máxima até o volume residual (VR), seguida por uma inspiração máxima sustentada até a capacidade pulmonar total (CPT). O paciente foi orientado a realizar o máximo de inspirações possíveis durante 1 minuto, o que consistia em 1 série. No minuto seguinte foi feita uma pausa para descanso, e logo após completar 1 minuto de descanso, retornou-se a manobra durante mais 1 minuto, até se completarem 6 séries de execução da manobra.
  • A finalização da vídeo chamada ocorria após a realização do treinamento e esclarecimento de possíveis dúvidas apresentadas pelos pacientes. Após completar 30 dias corridos de treinamento, o paciente retornou para reavaliação, agendada esta pelo treinador, onde também foi realizado o ajuste de carga quando necessário e aplicada a Escala de Likert.
  •  Posteriormente a reavaliação de 30 dias, os pacientes foram instruídos a dar continuidade ao treinamento e receberam orientações quanto a forma de realizar as anotações durante o TMI. As anotações consistiram na avaliação da dispneia (BORG inicial e final) e registro do número de inspirações realizadas em cada série. Nesta etapa o treinador realizou o acompanhamento uma vez na semana, enquanto nos dias subsequentes os registros do treino foram feitos pelo próprio paciente ou acompanhante até a data da próxima reavaliação onde o paciente recebe alta do TMI.

Sobre os resultados:

  • Foi observado uma redução de dispneia de aproximadamente 1 grau;
  • Na avaliação da satisfação, inicialmente 19% dos pacientes acreditavam que seria perda de tempo o telemonitoramento, após 30 dias esse número caiu para 0%, aqueles que não acreditavam total ou parcialmente que o telemonitoramento era uma perda de tempo subiu de 74% para 100% após 30 dias de Terapia.
  • Referente ao modelo de TMI por vídeo chamada online dar ou não certo, 24% dos pacientes responderam no primeiro momento que concordavam total ou parcialmente que o treinamento não daria certo e após 30 dias esse número reduziu para 0% dos pacientes. Paralelamente, a quantidade de pacientes que discordavam inicialmente, total ou parcialmente, que o TMI no modelo online não daria certo passou de 69% para 100% após os 30 dias.
  • Quanto à crença nos resultados advindos do treinamento, no primeiro momento 26% não acreditavam que obteriam resultados significativos e com 30 dias de treinamento esse número reduziu de 26% para 8%. Por outro lado, 67% dos pacientes acreditavam que o TMI traria bons resultados e após 30 dias 92% passaram a acreditar nos resultados significativos advindos do treinamento.
  • Em relação a diminuição dos sintomas de fadiga, inicialmente 51% dos pacientes acreditavam que o treinamento não diminuiria consideravelmente os sintomas de fadiga e após 30 dias esse número reduziu para 17%. Em contrapartida, 37% dos pacientes acreditavam que o treinamento diminuiria significativamente os sintomas de fadiga, apresentando um aumento de 37% para 72% após 30 dias.
  • Em relação a diminuição dos sintomas de fadiga, inicialmente 51% dos pacientes acreditavam que o treinamento não diminuiria consideravelmente os sintomas de fadiga e após 30 dias esse número reduziu para 17%. Em contrapartida, 37% dos pacientes acreditavam que o treinamento diminuiria significativamente os sintomas de fadiga, apresentando um aumento de 37% para 72% após 30 dias.
  • Por fim, observou-se que, no início, 63% dos pacientes concordaram total ou parcialmente que o TMI ajudaria a realizar as atividades cotidianas e após 30 dias este número aumentou para 99%. Paralelamente, 32% dos pacientes discordavam total ou parcialmente que o treinamento ajudaria a realizar as atividades cotidianas e após 30 dias, este número reduziu para 0%.

O estudo conclui que a satisfação dos pacientes Pós-COVID-19 com a modelo de atendimento por telemonitoramento aumentou com o decorrer do tratamento, pois foi observado a diminuição da dispnea e melhora na capacidade funcional e como consequente melhoria na qualidade de vida.
Além disso, ao final do período de tratamento os pacientes se sentiram satisfeitos com os resultados alcançados e com a assistência prestada pelo terapeuta no modelo de telemonitoramento. Os pacientes demonstraram sentir-se mais seguros quando o tratamento é conduzido por um profissional capacitado.

Confira o estudo: https://www.researchgate.net/publication/366682243_Analise_da_satisfacao_de_pacientes_Pos-COVID-19_com_telemonitoramento_para_o_treinamento_da_musculatura_inspiratoria

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