Nosso sistema nervoso autonômico (SNA) é uma parte de nosso sistema nervoso que independente de nossa vontade, regula os principais mecanismos fisiológicos, tais como frequência respiratória, contração cardíaca, dentre outros.
Muito tem-se estudado sobre como mecanismos externos podem agir sobre esse sistema pois já é sabido pelas cientistas que sua disfunção afeta rigorosamente a saúde, trazendo consigo doenças pulmonares e cardíacas.
Estudo publicado recentemente por Cipriano e colaboradores, pesquisadores da renomada UNB buscaram respostas sobre como o treino muscular inspiratório (TMI) pode ser benéfico na regulação desse sistema tão importante para nós.
Sobre a busca de dados:
- Foram selecionados 4 artigos para discussão;
- Todos os artigos verificaram o efeito do TMI em grupos controle e experimental;
- As cargas variavam em mínima ou sem carga até cargas mais altas;
- O foco principal eram os efeitos do TMI sobre o SNA em pacientes com riscos cardíacos;
- A modulação autonômica foi avaliada de forma indireta, dosagem de níveis plasmáticos de catecolamninas;
- A frequência do treinamento foi variada, porém os protocolos giraram em torno de 30% da PImax, 30 minutos diários durante 8 semanas.
Quais são as explicações encontradas que associam o TMI a melhora do SNA?
O estudo observou que o TMI melhorou a atuação do sistema autônomo, mesmo quando o paciente não apresenta fraqueza muscular inspiratória. Há também um estudo que avaliou o efeito do TMI sobre o SNA através da microneurografia em pacientes com insuficiência cardíaca, e embora tal pesquisa não participasse desta revisão. O uso da microneurografia para avaliar o efeito do TMI foi importante porque forneceu insights detalhados sobre como o TMI pode influenciar as respostas neurais autonômicas. Isso pode ajudar a entender melhor os mecanismos pelos quais o TMI exerce seus efeitos benéficos no sistema cardiovascular e respiratório, fornecendo uma base científica sólida para seu uso clínico e terapêutico. A microneurografia é uma técnica que permite a avaliação direta das atividades nervosas simpáticas em seres humanos. Ela é especialmente relevante em estudos sobre insuficiência cardíaca e outras condições cardiovasculares, pois permite uma análise precisa e detalhada das respostas neurais autonômicas, como a atividade do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que regula funções como a frequência cardíaca, a pressão arterial e a vasodilatação.
Além disso, foi observado que a melhora da força muscular inspiratória aumenta a resistência à fadiga, reduzindo a liberação de produtos metabólitos por esses músculos, o que pode atenuar o estímulo ao metaborreflexo respiratório, o reflexo cardiopulmonar, conhecido como “freio” vagal, pode ser estimulado a partir do aumento dos volumes pulmonares pela inspiração sustentada realizada durante o TMI.
A proximidade e as conexões neurais entre os centros cardiovascular e respiratório já foram descritas, de forma que intervenções que atuem no controle respiratório podem gerar respostas nas variáveis cardiovasculares. Essas respostas se referem às mudanças observadas após estímulos externos ou internos, como exercícios físicos, estresse ou intervenções terapêuticas. Isso pode incluir alterações e melhorias na pressão arterial, frequência cardíaca, débito cardíaco, entre outros parâmetros.
Outros estudos também já relatam que o TMI, além de força muscular inspiratória, há uma importante melhora na qualidade de vida e capacidade funcional dos pacientes com doenças crônicas, sendo assim, pode haver uma melhora significativa nas habilidades do corpo para realizar atividades diárias e físicas, como caminhar, subir escadas, ou outras tarefas, sem sentir excesso de exaustão ou desconforto.
O estudo conclui que o TMI parece melhorar o controle autonômico cardíaco e sistêmico, principalmente em doentes cardiovasculares. Evidencia-se que a heterogeneidade da prescrição do TMI pode influenciar os benefícios autonômicos promovidos por essa modalidade, sendo essencial a realização de novos estudos acerca dessa temática.