Autor: Vinicius C. Iamonti
O objetivo terapêutico do treinamento muscular inspiratório (TMI) em pacientes com Esclerose lateral amiotrófica, uma doença neuromuscular de caráter progressivo, é questionável. Contudo, ao longo de duas décadas, informações consistentes estão disponíveis na literatura científica sobre este tema.
Curiosamente, em uma busca na base de dados científicos americana Pubmed com os termos “respiratory muscle training” e “amyotrophic lateral sclerosis“, foram encontrados 53 artigos, mas apenas 13 descreviam, propriamente dito, o efeito do TMI na ELA, os outros 40 eram de doenças neuromusculares variadas.
A pesquisa de Davinia Vicente Campos e colaboradores, investigou os efeitos do treino muscular inspiratório com o dispositivo POWERbreathe® em pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).
O treino teve a duração de 8 semanas e os resultados mostraram melhorias significativas na pressão inspiratória máxima (PImax), frequência cardíaca (FC) e variabilidade da FC, qualidade de vida e funcionalidade.
Em comparação com o Grupo Controle do estudo, o grupo que fez o treinamento com POWERbreathe apresentou aumentos significativos na PImax e no escore da Escala Revisada de Avaliação Funcional da ELA (ALSFRS-R), bem como reduções na FC e no intervalo R-R.
Como foi realizado?
O protocolo de treinamento durou 8 semanas e consistiu em 30 inspirações por dia, divididas em 15 repetições pela manhã e 15 à tarde, com pelo menos 3 horas de intervalo entre as sessões. As sessões foram supervisionadas para evitar perda de seguimento e foram realizadas em casa, com ajustes semanais da carga de trabalho por meio de consultas domiciliares.
A adesão ao treinamento foi verificada diariamente por meio de ligações telefônicas e/ou videoconferências.
Os autores concluem que o treinamento muscular inspiratório (TMI) com o dispositivo POWERbreathe® parece ser seguro para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Eles observaram que não houve relatos de desconforto ou dificuldades durante o treinamento, conforme comentado pelos pacientes diariamente durante as chamadas telefônicas ou videoconferências com os pesquisadores. Além disso, o estudo sugere que os músculos inspiratórios de pacientes com ELA podem responder favoravelmente a um programa de treinamento de força, apesar do processo de desnervação contínua presente na doença. No entanto, os autores também ressaltam a necessidade de estudos com amostras maiores para confirmar essa segurança e avaliar melhor os benefícios clínicos do TMI nesse contexto.
O perfil de pacientes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) que podem se beneficiar do tratamento com Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) é descrito nos critérios de inclusão do estudo. Esses critérios são:
1. Pacientes com menos de 1,5 anos a partir do diagnóstico médico atual de ELA.
2. Pacientes com uma pressão inspiratória máxima (PImax) maior que 30 cm H2O.
3. Pacientes com idade entre 18 e 65 anos.
4. Pacientes que possam ou não estar em tratamento com Riluzole.
Além disso, o estudo foi projetado para incluir pacientes tanto com início bulbar quanto com início espinal de ELA. A intervenção testada foi o TMI utilizando o dispositivo POWERbreathe®, que foi realizado em conjunto com os cuidados habituais em um período de 8 semanas.
O estudo piloto sugere que o TMI pode ter um impacto positivo na função respiratória, parâmetros cardiocirculatórios, qualidade de vida e funcionalidade em pacientes com ELA, embora sejam necessários estudos maiores e mais longos para confirmar esses benefícios ao longo do curso da doença.
Quais foram as descobertas em relação à qualidade de vida e funcionalidade dos pacientes com ELA após o treinamento muscular inspiratório POWERbreathe®?
Após o treinamento muscular inspiratório POWERbreathe®, foi observado que houve uma melhora na força muscular inspiratória e na frequência cardíaca em repouso dos pacientes com ELA. No entanto, apesar de um efeito moderado na qualidade de vida, não foram encontradas diferenças significativas. Isso pode ser atribuído à duração do treinamento muscular inspiratório, que foi de apenas 8 semanas, em comparação com as 12 semanas propostas em outras doenças neuromusculares, bem como ao uso de dispositivos de treinamento muscular inspiratório diferentes do POWERbreathe®. Esses resultados indicam a necessidade de estudos maiores e mais longos para investigar os potenciais benefícios clinicamente relevantes do treinamento muscular inspiratório em pacientes com ELA ao longo do curso da doença.
Quais são as limitações do estudo?
De acordo com os trechos do documento fornecido, as limitações do estudo são as seguintes:
1. Curta duração do protocolo de treinamento: O protocolo de treinamento dos músculos inspiratórios (IMT) durou apenas 8 semanas, o que pode não ser suficiente para observar mudanças significativas em certos parâmetros.
2. Tamanho pequeno da amostra: O estudo incluiu um número reduzido de participantes, o que pode limitar o poder estatístico e a generalização dos resultados.
3. Falta de randomização: O estudo não foi randomizado para evitar diferenças de sexo e idade devido ao pequeno tamanho da amostra, o que pode introduzir possíveis vieses.
4. Ausência de controle para o dispositivo POWERbreathe® sem carga: O grupo controle recebeu apenas o cuidado usual, sem IMT, e estudos futuros devem considerar um grupo controle usando o dispositivo POWERbreathe® sem carga para melhor isolar os efeitos do treinamento.
5. Critérios de exclusão para o uso de ventilação não invasiva (VNI): Embora o uso de VNI tenha sido incluído como um critério de exclusão (os pacientes não podiam usar VNI por mais de 14 horas por dia), as horas reais de uso diário da VNI não foram incluídas no estudo, o que poderia ter confundido os resultados.
6. Necessidade de parâmetros adicionais: O estudo sugere que a inclusão da capacidade vital e da duração da doença teria fortalecido os resultados, proporcionando uma descrição mais completa da amostra. Essas limitações destacam a necessidade de futuros estudos com uma amostra maior, protocolos de treinamento mais longos, ensaios clínicos randomizados e uma avaliação mais abrangente da função respiratória e da progressão da doença.
Como o treinamento muscular inspiratório POWERbreathe® pode afetar a qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes com ELA?
O treinamento muscular inspiratório POWERbreathe® pode afetar positivamente a qualidade de vida e a funcionalidade dos pacientes com ELA, conforme demonstrado no estudo. Apesar de não haver diferenças significativas na melhora da qualidade de vida entre os grupos experimental e controle, houve um efeito moderado. Este resultado pode ser atribuído à duração relativamente curta do treinamento, que foi de apenas 8 semanas, enquanto outros estudos em doenças neuromusculares propõem um treinamento de 12 semanas. Além disso, o treinamento muscular inspiratório com o dispositivo POWERbreathe® pode fortalecer o músculo diafragma e minimizar a fraqueza e a perda muscular, o que é particularmente relevante para pacientes com ELA que sofrem de disfunção respiratória.
O treinamento muscular inspiratório foi realizado utilizando o dispositivo POWERbreathe®, que oferece 11 níveis de resistência variando de 23 cm H2O a 186 cm H2O, permitindo um aumento progressivo da resistência.
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